quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

FLAY


Existem momentos na nossa vida onde uma decisão ao ser tomada nos remete ao passado fazendo, desta forma, com que nossos sentimentos se aflorem em forma as vezes, de lágrimas ou, de outras vezes, através de uma profunda solidão. No decorrer dos anos em que passamos por este plano encontramos seres que nos tornam caros, agregados ao que existe de bom em nosso interior. Assim foi quando Flay entrou em minha vida. Trata-se de um Rotweiller que aos dez anos se encantou, deixando a mim e a toda minha familia com uma dor que será difícil de ser reparada. De pequeno foi criado não para ser um cão violento, maldoso ou covarde. Foi sim criado como um amigo da casa, de meu lar e, assim cresceu dócil, mas, pelo tamanho e pela bela conformação impunha respeito a todos que não o conheciam. Aos seis meses começou seu adestramento que durou mais de dois anos e, o resultado foi uma educação obtida onde meu amigo Flay podia andar solto, ao meu lado sem causar qualquer alvoroço, mesmo quando era seguido por outros cachorros. Nunca atacou quem quer que fosse como, também, nunca se envolveu em briga salvo quando quase engoliu nosso gatinho Bernardo . No inicio dormia dentro de casa, nos pés de minha cama e, vez por outra quando Bernadete não estava, passava para cima da cama e lá ficava. Com a vinda de Bernardo e Bianca Flay perdeu seu lugar dentro de casa e foi para o quintal escolhendo um dos quartos da parte baixa da casa para ali residir. Nunca perdeu sua alegria como, nunca deixou de demonstrar que adorava pão São José com manteiga de leite. Nunca foi levado para uma exposição muito embora sua conformação era de causar inveja àqueles que entendem da raça. Bem, que mais poderia dizer de meu, de nosso, amigo que nos deixa agora para viver na eternidade?É bem difícil falar ou escrever quando se sente dor e quando a saudade é parte integrante de nosso dia a dia. É certo que meu amigo está imortalizado através de sua presença em minha familia por dez anos a fio, sem nunca antes ter adoecido e, quando a velhice veio chegou de uma vez o tornando incapaz de enxergar e fazendo seus ossos rangerem de dor. Nos deixou Flay, mas, seu espírito estará sempre em nossa vida. Adeus meu amigo.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Posso dizer que estou cheio de um vazio que ocupa todo meu interior. A sensação é como se eu estivesse caindo de um lugar bem alto, vendo o fim da queda se aproximar e, enquanto isso, meu interior é lavado pelos pensamentos que trazem o passado de volta à realidade vivida. Dizem alguns que, diante da morte toda a vida passa pela frente daquele que vai morrer como se fosse um retrospecto das coisas que fizemos. Fico aqui por deveras curioso eis que em lembrando do fatos passados em que isso poderia redimir o indivíduo que somente fez o mal. (?).

domingo, 20 de julho de 2008

UMA QUESTÃO DE SORTE, DIGO, A SOGRA

Chega a ser desnecessário salientar o quanto se fala da sogra tornando-a sinônimo de coisa ruim, de pesadelo, de mal presságio e coisa e tal, mas, a bem da verdade feliz daquele que possui sogra mesmo porque é ela o espelho do genro. Se temos um genro fofoqueiro teremos uma sogra que não sai da janela. Da mesma forma se temos um genro voltado para o bem teremos uma sogra que será a palavra de Cristo aqui na terra. Todavia, as desventuras de uma sogra não se limitam a serem aquelas que partem da boca do genro. A sogra, coitada, é fruto dos mais pecaminosos pensamentos dos malfadados genros que, em sonho, preferiam ter casado com a sogra do que com a filha dela.

sábado, 5 de julho de 2008

O INDIVÍDUO


É sabido que a sociedade de consumo possui por valor a gratificação instantânea e da felicidade individual. A sociedade de consumidores considera os feitos dos mártires, heróis e todas as suas versões híbridas quase incompreensíveis e irracionais e, portanto, ultrajantes e repulsivos. Essa sociedade promete uma felicidade fácil que pode ser obtida por meios inteiramente não-heróicos e que, portanto, devem estar, tentadora e satisfatoriamente, ao alcance de todos os consumidores. Assim é a vida atual onde a compensação se torna a meta do individuo vilipendiado através de suas proprias aspirações. É preocupante o fato de que mesmo vivendo em grupo, na busca pela segurança, pelo trabalho, pela constituição de renda, o individuo ainda se ve compelido a ferir seu semelhante seja fisicamente ou moralmente. Deixa, então, de lado possibilidade de fazer o bem e parte para a auto destruição. Ser um indivíduo significa ser diferente de todos os outros. Ser um indivíduo significa “eu sou quem eu sou”. O que quer dizer: um ser singular, a única criatura feita desta forma peculiar; profundamente única. A individualidade é tarefa intrinsecamente auto-referencial. É a busca pelo verdadeiro “eu” que está escondido em algum lugar da obscuridade no interior do nosso ser, não afetado pelas pressões externas. Individualidade é autenticidade, ser fiel a si mesmo, ser o verdadeiro “eu”.
A individualidade é escolher livremente e de definir todas as ações como originárias da livre escolha. Nesse domínio do face a face, a individualidade é afirmada e renegociada diariamente na atividade contínua da interação. Ser um indivíduo é aceitar a responsabilidade pela direção e pelas conseqüências da interação. Tal responsabilidade não pode ser contemplada sem que os atores tenham o direito de escolher livremente o caminho a seguir. A individualidade gera a comunidade fundada na cooperação.
Cada pessoa encontra obstáculos no seu caminho para a individualidade de fato. A individualidade de fato não é fácil de conseguir, muito menos de preservar. A busca pela individualidade significa uma luta para toda a vida. A busca da individualidade não deixa tempo para outra coisa. Na corrida pela individualidade, não há intervalo, no entanto, a comunidade oferece condições para o pleno desenvolvimento da autonomia.
O emergir da individualidade assinala, não resta dúvida, um progressivo enfraquecimento do poder verticalizado, a desintegração ou destruição da densa rede de vínculos sociais que amarram com força a totalidade das atividades da vida social. Com o desenvolvimento da individualidade os padrões das rotinas diárias são deixando de ser vistos como incontestáveis e auto-evidentes. A busca interior para fazer emergir a individualidade abala profundamente os alicerces do sistema capitalista.
A singularização não deixa de ser um perigo para os donos do poder que elaboraram uma sociedade totalmente voltada para a exterioridade com as seguintes características: superficialidade, efemeridade, lucratividade, consumo, segurança, competência, modernização, eliminação do antigo, busca constante do prazer. O único cerne identitário que se pode ter certeza de que vai emergir nesta sociedade do lucro é um ego impermanente, completamente incompleto, definitivamente indefinido e autenticamente inautêntico.
Para viver nesta sociedade virtual elaborada pela burguesia foi necessário substituir o ser humano autônomo que vivia em comunidade por um ser humano virtual com uma individualidade também virtual. Vários são os métodos empregados para elaborar o homem virtual, entre eles podemos salientar:
1 Elaboração de um discurso negando a existência da individualidade natural e mostrando a existência de pressões que impedem o direito de livre escolha. Salientam que existem pressões contínuas, esmagadora e irresistível do fato social que torna a livre escolha fora do alcance do ser humano.
2 Para interpretar os nossos sentimentos profundos o sistema elaborou inúmeros profissionais que podem nos ajudar a entender o nosso interior. Quando existe procura a oferta não demora a aparecer. Em nossa sociedade de indivíduos que buscam desesperadamente sua individualidade, não há escassez de auxílios e pelo preço certo os profissionais se mostrarão totalmente dispostos a nos guiar pelos calabouços sombrios de nossas almas. Dessa forma muitos acabam perdidos na estrutura do pensamento de determinado programa ou no sentimento da impossibilidade de conseguir autonomia ou individualidade. Substituíram a busca do próprio sujeito por caminhos indicados pelos outros.
3 A sociedade virtual não pode existir sem controle. O controle determina para onde ir anulando a liberdade natural da livre escolha. O sistema fornece a bússola que indica os objetivos que as pessoas devem atingir. A possibilidade de escolher seu próprio caminho é inexistente.
4 O caminho que leva à individualidade é uma batalha em curso sendo uma luta interminável entre o desejo de liberdade e a necessidade de segurança. Por essa razão, as guerras de identidade provavelmente permanecerão inconclusas e, com toda a probabilidade, é impossível vence-las, pois, o sistema trabalha e valoriza a segurança virtual. A busca pela segurança individual supera os valores da autonomia humana.
5 A lógica do consumismo serve às necessidades dos homens e das mulheres em luta para construir, preservar e renovar a individualidade virtual e, particularmente, para lidar com a dúvida ou hesitação sobre a individualidade real. A luta pela singularidade agora se tornou o principal motor da produção e do consumo de massa: “Seja você mesmo – prefira Coca Cola”. Para entrar e permanecer na corrida é preciso ter um carro de luxo e uma casa esplêndida. Ser um indivíduo virtual numa sociedade de indivíduos virtuais custa dinheiro, muito dinheiro.
6 Neste mundo de estilo empresarial a individualidade natural é substituída pela competência em gerir os negócios buscando o lucro instantâneo, a administração das crises e a limitação dos danos.
7 As classes instruídas que atualmente constituem o cerne articulado e auto-reflexivo da emergente elite são chamados de híbridos. A hibridização isola o híbrido de toda e qualquer linha comum. A hibridização passa a ser uma declaração de autonomia virtual, pois, são diferentes das outras pessoas, são culturalmente especiais. O fato de os outros serem deixados para trás fortalecem nos híbridos suas convicções e suas alegrias.
8 A busca autonomia natural é substituída pelo demoronamento ou no desmantelamento forçado das rotinas da vida e das redes de vínculos humanos e compromissos mútuos, eliminando toda possibilidade da existência comunitária.
9 A individualidade natural é substituída pela pertença grupal a uma religião, a um time de futebol, a uma associação de classe.
10. A individualidade foi substituída pelo egoísmo desenfreado que destrói.
Observamos, pois, que a individualização natural forma uma comunidade onde predomina a solidariedade e a paz. A individualização virtual elabora uma sociedade capitalista cujas virtudes são: lutas, conquistas, construções, destruições intermináveis, guerras, domínio, hierarquia para manter o poder e finalmente o materialismo que destrói toda possibilidade de consciência libertária. ps: by MSS.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O TEMPO


Foi uma época onde tanto eu como meus filhos nos divertimos muito.
Foi quando começamos a criar cavalos é que comprei do Luizão um animal que, no princípio acreditava-se chamar "apache", mas, depois viemos a descobrir que seu nome era, na verdade e segundo documentos, "mutirão da macega". Se pode dizer que no dia da compra até passamos pelo vexame de comprar alhos por bugalhos, mas, na verdade foi o início de uma vida venturosa, promissora e gratificante. Conhecemos homens que tratavam cavalos com respeito, com dignidade e, em troca recebiam o mesmo respeito. Com orgulho lembro-me do treinador, professor Roy Viviam com quem, diga-se de passagem, aprendemos muito. Aprendemos que cavalgar é um estado de espírito e, ter um cavalo é como ter a passagem para os planos mais elevados do universo. Mais tarde conhecemos o seu filho, Roy Viviam Júnior que, como o pai, trouxe-nos conhecimento realçando sempre a humildade como forma de levar a quem quer que seja o que é ter um animal. Participamos de várias exposições tanto em Minas Gerais como no Estado de São Paulo e, um dos meus filhos, o "lelo", se consagrou Campeão Nacional pela ABQM. Tivemos animais como o Gallant, o Fort Free, o Gold, a Princesa, o saudoso Dakar, o Ponteio e o Catuni filho do Catuni Quo Vadis. Alguns destes animais já desapareceram, mas, deixaram conosco uma saudade indelével e, alguns deles foram vendidos servindo, naquela época para satisfazerem nossas pretensões de majorar o plantel. Conhecemos João Fivela, seu pai Batista e homens que fizeram de nossa vida um momento de muita alegria. Estivemos por Arcos onde fomos recebidos como filhos e, nossos amigos antes de serem amigos eram nossos irmãos. Nosso Rancho, conhecido por Rancho Gold, em Pindaibas, era o sonho. Foi construído com afeto e, mais tarde vendido diante da força do tempo, que nada perdoa. Em nossa jornada, tanto o ernani como marcinho e adriano tiveram oportunidade de tomarem chuva, sentirem frio, calor, sede, fome e em alguns momentos tristeza, mas, tudo sempre juntamente com nossos queridos e saudosos animais que de tudo compartilharam. Levantava-mos de madrugada e antes mesmo de nossa refeição dava-mos aos nossos amigos o repasto abundante, a água límpida e o calor da escovação. Depois, sim, é que cuidava-mos de nos mesmos. Nesta jornada, além de Roy conhecemos outros homens de bem como Jacinto Ferreira, Noel, Vicente e Laercio, Ildeu, Leonardo Avelar, Vander Alvarenga, Lazaro de Uberlando, Zé pequeno de Uberaba, Rogério de Uberaba, Loli de São Paulo que, diga-se de passagem, se trata de um artista quando cavalga. Conhecemos ainda Paulo Cury, exímio professor de redeas e, estivemos na cidade de Americana onde passamos dias e noites em volta de animais maravilhosos. É certo que existiram outras pessoas que conviveram conosco cujos nomes estão guardados em nossos corações como, diga-se de passagem o Adilsom meu capataz e sua esposa Martinha, nossa cozinheira. Estas duas pessoas foram anjos em nossas vidas que cuidaram sempre de nossos animais e de minha família. Ainda me lembro das lágrimas e dos gritos da Martinha quando a égua Royal Luke Money desapareceu. Agora, nunca poderia esqueçer da querida amiga Celinha Oliveira, mãe do Thiago e do Daniel que ainda a temos em casa, no coração e no fundo de nossa alma, la no canto reservado para os sentimentos bons. De resto, tudo foi uma pena e passou. Bem, o tempo passou e, por mais que eu tentasse traçar aqui o perfil daquela época não conseguiria exprimir os sentimentos que nutriram e nutre minha vida e de meus filhos. Ficaram as lembranças e, posso dizer que em razão disso os anéis não foram e ainda ficaram os dedos. Acredito que todos deveriam, um dia, ter um cavalo quando, desta forma, poderia aprender mais do que anos de vida ou de escola. Com isso deixo aqui, todavia, através destas letras um forte abraço no coração de todos aqueles que passaram por nossas vidas e, aos meus queridos animais que já se foram, que minhas lágrimas sejam o alimento de seus espíritos e, onde estiverem que possam olhar por mim e por meus filhos tendo a certeza que nunca os abandonamos e que somos eternamente gratos por terem estado ao nosso lado sendo que, até hoje tenho ao meu lado meu amigo Flay, já velho e sentindo no corpo o peso dos anos, mas, continua ainda sendo alegre esperando sempre na porta de minha casa o meu retorno.

LIVRO 1

Já houve tempo que o homem caminhava a procura de seu ideal como, alias, poderá acontecer novamente, mas, os tempos são outros e o homem caminha a procura sabe-se lá do que. Poderia até ser verdadeiro o boato recentemente chegado à cidade de que um homem estranho, municiado que estava com uma longa capa, chapéu escuro e bota longa, havia procurado por mim no bar da graviola. Mas, o que pensar, nada que havia feito poderia trazer alguém de fora a minha procura, ou melhor, quem de fora poderia se lembrar de mim para se dirigir até minha cidade, a minha procura. Por mais de vinte e cinco anos não arredava fora do lugar que escolhera para viver e, antes disso, minhas saídas foram tão insignificantes, que não conseguia achar o motivo para ser procurado. Até mesmo as pessoas de minha cidade não me procuravam e, quando iam até minha presença era porque, de uma certa forma, era inevitável ficarem sem a orientação que precisavam. No mais, estava eu sempre sozinho as voltas com meus afazeres, com medo da doença há pouco descoberta, longe de tudo e de todos. Emerso em meus problemas, sempre na expectativa de chegarem problemas novos, mal conseguia resolver os antigos e agora, alguém estava a minha procura. Por um momento pensei que os problemas antigos, por estarem desprezados haviam tomado forma, e pior, forma humana, desconhecida e vestida para melhor me atormentar. Era, pois, noite quando me dei conta que passei o dia todo pensando na figura que andara procurando por mim. A luz de meu quarto estava apagada, algumas formas estavam, todavia, desenhadas na parede em decorrência da luz prateada da lua que invadira meu quarto pela janela, colocada a minha esquerda...