quarta-feira, 16 de maio de 2007

ONTEM

O tempo, este inexorável aliado do fim, não me perdoa. as lembranças do passado são carregadas por ele de forma que, mesmo sem as querer, elas se fazem constantes como que querendo alimentar meu tempo presente. inegavelmente um paradoxo posso traçar entre o agora e o que ficou e, entre todas as coisas que senti nada mudou apesar das dores, dos ressentimentos, dos desencontros e, também do encontro que até hoje dura. o nada que mudou se refere não o que posso sentir, mas, sim ao que parte de meu interior; da forma de ver as coisas e, também de fazer alguma coisa. ontem, por exemplo, ainda não passou para quem não acredita que existe o amanhã e, viver no ontem ou o ontem nada mais é do que perpetuar a dor, pois, o ser humano é moldado pela dor enquanto que fora a dor, o que existe nada mais é do que momento de candura que cobre o ser estraçalhado com o fino manto do crêr em algo aplacando, desta forma, o sentimento de perda. Posso notar, então, que o tempo não anda sozinho estando com ele a dor, o medo e a esperança sendo que esta ultima, senhora que vem de muito tempo antes de qualquer sentimento, anda com seus companheiros para, desta forma fazer com que, mesmo sentindo ainda posso sonhar ou, até mesmo lembrar.

CILICIO

quero calçar-me de terra, quero ser a estrada marinha que prossegue depois do último caminho, assim disse Mia Couto, uma dos maiores poetas africanos. na verdade, prosseguir significa, ao meu sentir, continuar a jornada por este plano levando o que de resto conseguimos salvar de nossos relacionamentos; de nossos pensamentos; de nossas frustações e, sobretudo, de nosso querer. o passado, este cruel servo iníquo, serve de lastro para uma vazão maior do que fazemos na atualidade e, com isso, ao pensar que não iremos sofrer porque já sofremos, que não iremos chorar, porque nossas lagrimas secaram, somente nos colocamos diante daquilo que não é ser fruto de uma realidade divina, encapada pelo manto de uma carne que serve de cilicio para nosso espírito.