segunda-feira, 15 de março de 2010

FORMAS

Algumas das formas se assemelhavam ao que ia em meu interior, refletiam meus anseios, minhas duvidas, meus receios e outras, nada diziam e se passavam por seres de minha infância, que já não causavam medo algum. Outras, por sua vez, causavam-me arrepio só de imaginar que ali estavam. Pareciam ter vida e pensavam. Mas, nada disso me preocupava, mas, sim, o fato de que não me dei que escurecera, que já era tarde da noite e nada havia comido e nem bebido. Uma fome intensa agora me incomodava e a sede afogava-me a ponto de fazer  sair dali, de meu quarto, e procurar o que existia na cozinha. Não, como sair dali, naquele momento e deixar todas aquelas formas sem qualquer vigia, formas que ali estavam porque eu as chamara. Como então acender a luz e dissipar os convidados que, se ali estavam, era porque os havia chamado através da solidão que sempre invadia meu ser. Muito embora algumas figuras fossem novas, outras já ali estiveram, a chamado meu, para compartilharem meus anseios, minhas duvidas e minha tristeza. Assim, ainda na dúvida passei a buscar em meu quarto a razão de minha existência, de minha vida, de minha morte e, pior, como seria minha morte. Ao meu lado, uma pequena mesa redonda, de carvalho muito velho, carregava alguns livros, em minha frente a cama, minha única companheira que ainda não estava arrumada, e já fazia mais de três dias que ninguém se importava com ela, deixando-a com os lençóis amarrotados e já quase com a marca de meu corpo fixado ali definitivamente. A parede do lado direito, que se opunha à janela, levava em seu meio um quadro de um certo pintor famoso, que já não lembro o nome, pintado por uma amiga de infância, a contra-gosto, e entregue a mim da mesma forma. A mesa que se postava quase que ao lado da cama estava abarrotada de papeis, uns escritos, outros não, mas, eram tantos que faziam pilhas e mais pilhas.