domingo, 15 de abril de 2007

INIMIGOS INTIMOS

Este assunto me foi despertado por um voto do desembargador Elizeu Gomes Torres, do TJ/RS, que adiante resumo por traduzir de forma magistral este tipo de situação conjugal que acrescento ser tão mais lamentável quanto envolva filhos menores.
Inegável a existência de um vínculo afetivo e sexual, que perdurou, de forma intermitente, ao longo de quase oito ano. Amor intenso, dramático, muitas vezes exasperado. Se o amor era assim sentido por ambos, não se sabe. Não há uma linha escrita pela mulher a expressar tanta paixão. Mas o marido, que é homem extrovertido, passional, externou, por mil modos, o que sentia e o quanto sentia. Não há como percorrer as mais de mil laudas deste processo de sete volumes, sem deixar-se tocar por esta paixão. Não sei por que, mas examinei – diz o desembargador – os restos mortais desse amor com a sensação que guardei de uma versão filmada de Shakespeare, in Ricardo V. Depois da batalha travada apelo domínio da França, o monarca vencedor percorre a pé o campo da luta. O prado transformou-se num lodaçal, a chuva cai sem cessar. No solo, bandeiras, restos fumegantes de carros de combate, cavalos mortos, estandartes estraçalhados, feridos que clamam por atendimento e milhares de mortos. Dentre estes, nobres, amigos, parentes, servos rapazes ainda imberbes que lutaram por um ideal para eles inatingível. O rei toma nos braços o corpo de seu melhor amigo e com ele completa a caminhada. Não há diálogos e, o rei sequer monologa. Mas creio que, ao longo do percurso, uma pergunta o monarca não cessou de fazer a si mesmo: valeu a pena? Os personagens deste drama judiciário ai estão, felizmente, vivos e em condições de re-amar. E certamente perguntam, diante da exposição quase pública das vísceras desse amor, se valeu a pena. Digo que seria melhor que tudo terminasse com a grandeza do imortal Augustim Lara, na mansão que ergueu para ser o templo da consagração de seu amor pela belíssima Maria Felix, percebeu um dia, ao café da manhã, um “rictus” de desprezo no rosto amado. Levantou, subiu as escadarias de mármore, foi ao banheiro, colocou as escova de dentes no bolso e nunca mais voltou.

Ana Carolina

Meu coração está aos pulos! Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais? É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz. Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: "Não roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", " Esse apontador não é seu, minha filhinha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar. Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar. Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba" e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu repito, ouviram? IMORTAL! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final!

Rabindranath Tagore

Esta é a minha prece a Ti, meu Senhor, com raízes em meu coração."Dá-me forças para sofrer minhas alegrias e tristezas. Dá-me forças para tornar frutífero meu amor em Teu serviço. Dá-me a força de não fugir nunca ao pobre, e de não dobrar os joelhos ante o poder insolente. Dá-me força para elevar minha mente acima das pequenezas da vida diária. E dá-me forças para sujeitá-la à Tua vontade, com todo amor. Não me deixes rogar para pôr- me a salvo dos perigos, mas para encará-los sem temor. Não me deixes implorar para que se aliviem minhas penas, mas para que meu coração possa vencê-las. Não me deixes aliados no campo de minhas batalhas, mas que possa eu fiar-me em minhas próprias forças. Não me deixes que, em ansioso temor, deseje salvar-me, mas que obtenha a paciência para ganhar meu reino. Concede-me a graça de que eu não seja covarde, que não só sinta Tua ajuda em minhas vitórias, mas que também possa achar a doce pressão de Tua mão em meus fracassos."