terça-feira, 6 de maio de 2008

O TEMPO


Foi uma época onde tanto eu como meus filhos nos divertimos muito.
Foi quando começamos a criar cavalos é que comprei do Luizão um animal que, no princípio acreditava-se chamar "apache", mas, depois viemos a descobrir que seu nome era, na verdade e segundo documentos, "mutirão da macega". Se pode dizer que no dia da compra até passamos pelo vexame de comprar alhos por bugalhos, mas, na verdade foi o início de uma vida venturosa, promissora e gratificante. Conhecemos homens que tratavam cavalos com respeito, com dignidade e, em troca recebiam o mesmo respeito. Com orgulho lembro-me do treinador, professor Roy Viviam com quem, diga-se de passagem, aprendemos muito. Aprendemos que cavalgar é um estado de espírito e, ter um cavalo é como ter a passagem para os planos mais elevados do universo. Mais tarde conhecemos o seu filho, Roy Viviam Júnior que, como o pai, trouxe-nos conhecimento realçando sempre a humildade como forma de levar a quem quer que seja o que é ter um animal. Participamos de várias exposições tanto em Minas Gerais como no Estado de São Paulo e, um dos meus filhos, o "lelo", se consagrou Campeão Nacional pela ABQM. Tivemos animais como o Gallant, o Fort Free, o Gold, a Princesa, o saudoso Dakar, o Ponteio e o Catuni filho do Catuni Quo Vadis. Alguns destes animais já desapareceram, mas, deixaram conosco uma saudade indelével e, alguns deles foram vendidos servindo, naquela época para satisfazerem nossas pretensões de majorar o plantel. Conhecemos João Fivela, seu pai Batista e homens que fizeram de nossa vida um momento de muita alegria. Estivemos por Arcos onde fomos recebidos como filhos e, nossos amigos antes de serem amigos eram nossos irmãos. Nosso Rancho, conhecido por Rancho Gold, em Pindaibas, era o sonho. Foi construído com afeto e, mais tarde vendido diante da força do tempo, que nada perdoa. Em nossa jornada, tanto o ernani como marcinho e adriano tiveram oportunidade de tomarem chuva, sentirem frio, calor, sede, fome e em alguns momentos tristeza, mas, tudo sempre juntamente com nossos queridos e saudosos animais que de tudo compartilharam. Levantava-mos de madrugada e antes mesmo de nossa refeição dava-mos aos nossos amigos o repasto abundante, a água límpida e o calor da escovação. Depois, sim, é que cuidava-mos de nos mesmos. Nesta jornada, além de Roy conhecemos outros homens de bem como Jacinto Ferreira, Noel, Vicente e Laercio, Ildeu, Leonardo Avelar, Vander Alvarenga, Lazaro de Uberlando, Zé pequeno de Uberaba, Rogério de Uberaba, Loli de São Paulo que, diga-se de passagem, se trata de um artista quando cavalga. Conhecemos ainda Paulo Cury, exímio professor de redeas e, estivemos na cidade de Americana onde passamos dias e noites em volta de animais maravilhosos. É certo que existiram outras pessoas que conviveram conosco cujos nomes estão guardados em nossos corações como, diga-se de passagem o Adilsom meu capataz e sua esposa Martinha, nossa cozinheira. Estas duas pessoas foram anjos em nossas vidas que cuidaram sempre de nossos animais e de minha família. Ainda me lembro das lágrimas e dos gritos da Martinha quando a égua Royal Luke Money desapareceu. Agora, nunca poderia esqueçer da querida amiga Celinha Oliveira, mãe do Thiago e do Daniel que ainda a temos em casa, no coração e no fundo de nossa alma, la no canto reservado para os sentimentos bons. De resto, tudo foi uma pena e passou. Bem, o tempo passou e, por mais que eu tentasse traçar aqui o perfil daquela época não conseguiria exprimir os sentimentos que nutriram e nutre minha vida e de meus filhos. Ficaram as lembranças e, posso dizer que em razão disso os anéis não foram e ainda ficaram os dedos. Acredito que todos deveriam, um dia, ter um cavalo quando, desta forma, poderia aprender mais do que anos de vida ou de escola. Com isso deixo aqui, todavia, através destas letras um forte abraço no coração de todos aqueles que passaram por nossas vidas e, aos meus queridos animais que já se foram, que minhas lágrimas sejam o alimento de seus espíritos e, onde estiverem que possam olhar por mim e por meus filhos tendo a certeza que nunca os abandonamos e que somos eternamente gratos por terem estado ao nosso lado sendo que, até hoje tenho ao meu lado meu amigo Flay, já velho e sentindo no corpo o peso dos anos, mas, continua ainda sendo alegre esperando sempre na porta de minha casa o meu retorno.

LIVRO 1

Já houve tempo que o homem caminhava a procura de seu ideal como, alias, poderá acontecer novamente, mas, os tempos são outros e o homem caminha a procura sabe-se lá do que. Poderia até ser verdadeiro o boato recentemente chegado à cidade de que um homem estranho, municiado que estava com uma longa capa, chapéu escuro e bota longa, havia procurado por mim no bar da graviola. Mas, o que pensar, nada que havia feito poderia trazer alguém de fora a minha procura, ou melhor, quem de fora poderia se lembrar de mim para se dirigir até minha cidade, a minha procura. Por mais de vinte e cinco anos não arredava fora do lugar que escolhera para viver e, antes disso, minhas saídas foram tão insignificantes, que não conseguia achar o motivo para ser procurado. Até mesmo as pessoas de minha cidade não me procuravam e, quando iam até minha presença era porque, de uma certa forma, era inevitável ficarem sem a orientação que precisavam. No mais, estava eu sempre sozinho as voltas com meus afazeres, com medo da doença há pouco descoberta, longe de tudo e de todos. Emerso em meus problemas, sempre na expectativa de chegarem problemas novos, mal conseguia resolver os antigos e agora, alguém estava a minha procura. Por um momento pensei que os problemas antigos, por estarem desprezados haviam tomado forma, e pior, forma humana, desconhecida e vestida para melhor me atormentar. Era, pois, noite quando me dei conta que passei o dia todo pensando na figura que andara procurando por mim. A luz de meu quarto estava apagada, algumas formas estavam, todavia, desenhadas na parede em decorrência da luz prateada da lua que invadira meu quarto pela janela, colocada a minha esquerda...