sexta-feira, 12 de março de 2010

EU

Já houve tempo que o homem caminhava a procura de seu ideal como, alias, poderá acontecer novamente, mas, os tempos são outros e o homem caminha a procura sabe-se lá do que. Poderia até ser verdadeiro o boato recentemente chegado à cidade de que um homem estranho, municiado que estava com uma longa capa, chapéu escuro e bota longa, havia procurado por mim no bar da graviola. Mas, o que pensar, nada que havia feito poderia trazer alguém de fora à minha procura, ou melhor, quem de fora poderia se lembrar de mim para se dirigir até minha cidade, à minha procura. Por mais de vinte e cinco anos não arredava o pé fora do lugar que escolhera para viver e, antes disso, minhas saídas foram tão insignificantes, que não conseguia achar o motivo para ser procurado. Até mesmo as pessoas de minha cidade não me procuravam e, quando iam até minha presença era porque, de uma certa forma, era inevitável ficarem sem a orientação que precisavam. No mais, estava eu sempre sozinho as voltas com meus afazeres, com medo da doença há pouco descoberta, longe de tudo e de todos. Imerso em meus problemas, sempre na expectativa de chegarem problemas novos, mal conseguia resolver os antigos e agora, alguém estava a minha procura. Por um momento pensei que os problemas antigos, por estarem desprezados haviam tomado forma, e pior, forma humana, desconhecida e vestida para melhor me atormentar. Era, pois, noite quando me dei conta que passei o dia todo pensando na figura que andara procurando por mim. A luz de meu quarto estava apagada, algumas formas estavam, todavia, desenhadas na parede em decorrência da luz prateada da lua que invadira meu quarto pela janela, colocada a minha esquerda...