quinta-feira, 22 de abril de 2010

A JANELA

Nada mais perfeito do que viajar de ónibus e, à tarde, através da janela lateral buscarmos ver, através de nosso reflexo, nosso passado. De vez em quando conseguimos fixar nossos olhos na paisagem que passa apressada o que, por um momento, faz com que a realidade se torne presente. Nada mais íntimo então que este momento onde, de cara a cara com aquilo que deixamos, que perdemos ou, que ganhamos podermos compartilhar, sem culpa, o dia passado. Foi assim, desta forma, em uma viagem para a cidade de Araxá que me encontrei comigo mesmo, a pensar em uma outra pessoa, ou seja, mais precisamente em um Promotor de Justiça. Bem, é certo que se não contar o milagre pouco importará a figura do santo e, sendo assim, que tomem um gole de paciencia e saibam do acontecido. Cicrano havia sido preso em face de uma Ordem de Prisao Temporária e,  no meio do atropelo acabou por ser preso, também, em flagrante delito pela posse de arma de fogo e munição. Isso há mais de trinta dias. Após postular a revogação da temporária e, de postular a liberdade provisória do pacinte; seu advogado depois de requerer diligências outras e, ja amolado pelo encarceramento - ao meu ver indevido - manteve, rapidamente, em um dos corredores do Forum coloquio com a dígna Autoridade onde este, por sua vez, usando de uma retórica perfeita, afirmou que tinha sido a favor do decreto prisional para salvar a vida do Cicrano, pois, muito embora entendesse que delitos haviam sido praticados primava ele, em primeiro lugar, pela mantença da vida humana e, é de se entender que o Imputado havia sido ameaçado de morte. Bem, surgiu então a questão que pretendo abordar, ou seja, onde fica o Preso diante de tamanha comiseração? Aqui posso afirmar que não deseja ele continuar preso, mesmo correndo sua vida risco de morte. Na verdade temos hoje em desfavor da vontade do ser humano o sistema jurisdicional que, além de inibir os movimentos do preso inibe, também, sua vontade tornando-o nada além de um número. Em suma, Cicrano continua preso e eu, por minha vez, até esqueci o que estava vendo na janela. Se eu lembrar, depois conto.