segunda-feira, 10 de maio de 2010

A ÁRVORE

Se tem que é lícito sentir mágoa, dor ou raiva no momento adequado. O crescimento e a realização não serão possíveis sem passar pela dor e pelas atribulações que são necessárias e inevitáveis. É uma questão de  respeito à integridade do indivíduo deixar que ele passe por seus conflitos e sofrimentos, que por si, também fazem parte do processo de crescimento. Porém, não devemos levar tão a sério o martelar dos existencialistas a respeito da angústia e do desespero, pois, a perda das ilusões e a descoberta de identidade, embora dolorosas no começo, podem ser, finalmente, estimulantes e fortalecedoras. Assim caminha a humanidade (o filme é ótimo). Agora, o que dizer de duas árvores que viveram a vida toda, cobrindo o ser humano a fim de que o sol, ser implacável, deixasse de queimar por vez o corpo já cansado em decorrência do corre corre da vida; que se viram, literalmente, cortadas quase que em sua raiz (?). Sentiram elas mágoa, dor ou raiva quando a serra, por vez, sangrava seus troncos indefesos? Teve o ser humano o respeito por elas ? Bem. creio isso não aconteceu. Na verdade, alguém desprovido de sentimento, em uma sala qualquer de um departamento burocrático, resolveu cortar não somente uma árvore, mas, duas árvores ou, melhor, este alguém assim agiu para, provavelmente, atender a suplica de uma sociedade hipócrita (coisa muito comum no meio humano). Em suma, em frente ao Fórum de Patos de Minas existiam duas lindas e majestosas árvores que, com seus galhos abrigavam alunos que saiam da Escola Marcolino de Barros e, acolhiam transeuntes cansados e, vez por outra, alguns funcionários e advogados que militam no Fórum para ali, debaixo das sombras majestosas, conversarem e fumarem. Até isso elas suportavam, sem contar a presença de alguns animais que também aproveitavam o frescor próprio daquelas árvores. Finalmente as cortaram, sem qualquer pudor e, para isso não se fez plesbicito algum. Simplesmente cortaram e, deixaram ainda, ao relento, parte dos troncos. É assim mesmo. O homem pouco importa com a vida de seu semelhante e, com a vida de duas árvores, então, ainda menos. Meus caros, poderia até traçar um tratado evidenciando o porque de não se cortar aquelas árvores, mas, pouco ou quase nada vai adiantar, pois, já cortaram mesmo. E agora?. Até podem plantar outras, mas, nunca serão as mesmas, com seus troncos fortes, marcados pelo tempo e, se estivessem doentes é certo que remédio teria, mas, cortar é mais fácil. Assim caminha a Humanidade (O filme é mesmo muito bom). O que restou então foi nos outros ficarmos indignados sendo que nada poderíamos fazer para evitar o que havia sido decidido por alguém desprovido de, sei lá, amor pelas árvores. Ademais, a surpresa foi tamanha com o indevido corte que nenhuma fotográfica tenho das duas senhoras ficando, em minha lembrança, somente as imagens o que, sem dúvida ficará na lembranças dos jovens alunos da Escola Marcolino de Barros, de alguns funcionários do Fórum Olympio Borges e, também na lembranças daqueles que se viram acariciados pelas damas que ao solo foram deitadas. Assim, aprendi mesmo que o crescimento e a realização não serão possíveis sem passar pela dor e pelas atribulações que são necessárias e inevitáveis. É certo também que não posso querer mal algum para quem determinou o corte, pois, se assim o fez foi em decorrência de suas crenças, mas, poderia ter optado por outro remédio, menos dolorido. E mais,  a dor é um dado fundador na espécie humana e está ligada à cultura, à arte, à religião e a todas as outras formas de simbolização para transformar as vivências humanas geradoras de sofrimento de modo a lhes dar sentido. A função biológica da dor é uma proteção contra a auto mutilação, defensiva e útil, mas em certos casos é a doença em si, exigindo alívio e tratamento. A dor não se deixa aprisionar no corpo, implica o homem em sua totalidade, sendo um fato existencial, além de fisiológico. O seu limiar de sensibilidade não é o mesmo para todos. A atitude face à dor, os comportamentos de resposta variam conforme a condição social e cultural, conforme a história de vida e a personalidade. Por que então não cortar as árvores, pois, se não podiam manifestar qualquer sentimento de dor, mesmo se doentes estivessem? Pois é, os cortes vieram como forma de aplacar a dor do ser humano, que por algum motivo sentia, mas, os corpos banidos das duas árvores, tidas como veias de ligam o ser humano à sua natureza foram levados, jogadas em um caminhão e, provavelmente, ainda assim continuarão a servir a nossa espécie. Nada justifica a matança e, por isso, estou de luto.